Proposta, que foi recusada por Manoel do Vitorinho (PP), aconteceu após reunião de prefeitos com o ministro Milton Ribeiro, em março de 2021. Pastor não foi localizado para comentar a acusação.
O prefeito de Boa Esperança do Sul (SP), José Manoel de Souza (PP), na foto abaixo com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, conhecido como Manoel do Vitorinho, confirmou nesta quinta-feira (24) à EPTV, afiliada da TV Globo, que o pastor Arilton Moura pediu R$ 40 mil de propina para enviar verbas do Ministério da Educação para o município, após um encontro de gestores municipais com o ministro Milton Ribeiro, em março de 2021.
A informação havia sido divulgada em reportagem de 'O Globo', na quarta-feira (23).
Arilton é um dos pastores com trânsito livre no MEC e relação próxima com o ministro Milton Ribeiro. Nesta semana, reportagem do jornal 'Folha de S. Paulo' mostrou áudio de Ribeiro, em reunião com prefeitos, dizendo que repassa verbas do MEC a municípios indicados pelos pastores a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em nota divulgada na terça (22), Ribeiro negou favorecimento a pastores e também que a prática ocorresse a pedido de Bolsonaro. O g1 não conseguiu localizar o pastor Arilton Moura para comentar a acusação do prefeito de Boa Esperança do Sul.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, e o prefeito de Boa Esperança do Sul, Manoel do Vitorinho (PP) - Foto: Reprodução/Facebook
Pedido de propina
Em 18 de março do ano passado, Manoel do Vitorinho estava em Brasília (DF) para participar de um encontro promovido pelo ministro da Educação com cerca de 30 gestores municipais - o compromisso consta na agenda oficial do ministro Milton Ribeiro.
A conversa com o pastor Arilton aconteceu no restaurante de um hotel, após a reunião no MEC.
"Quando acabou a reunião eu encontrei o prefeito de Gavião Peixoto e o de Nova Europa e falei ‘acho que viemos numa furada, que reunião sem conteúdo’. Nisso veio um cara que eu não lembro o nome e perguntou se eu estava bravo, respondi que sim e ele me perguntou se eu tinha levado ofícios. Depois de protocolar, ele convidou para almoçar no restaurante do hotel e disse ‘é que lá vai estar o pastor Arilton e o pastor Gilmar, eles vão falar um pouquinho sobre as demandas que vão liberar para os municípios’. Pegamos um táxi e fomos”, disse o prefeito à EPTV.
"Ele [Arilton] falou: 'prefeito, você sabe como as coisas funcionam, não dá pra ajudar todas as cidades, mas eu posso ajudar seu município'. Perguntei como e ele [Arilton] disse que era com uma escola profissionalizante. Respondi que isso não era uma necessidade do município e ele disse: ‘olha prefeito, eu consigo fazer um papel, um ofício agora, te libero a escola, mas em contrapartida você precisa depositar R$ 40 mil na conta da igreja evangélica'. Eu levantei, bati no ombro dele e falei ‘muito obrigado, pastor. Pra mim, dessa forma, não serve!’”, contou.
Nojo
Souza revelou que após o pedido receber o pedido de propina, sentou com os prefeitos de Gavião Peixoto e de Nova Europa e contou o que tinha acontecido.
“Falei ‘pelo amor de Deus, que barca errada a gente veio parar em plena pandemia’. A gente acabou de almoçar rapidamente, pagamos nossa conta e fomos embora. Senti totalmente descrente”, revelou.
“Mas naquele momento que acontece com você, eu me senti totalmente enojado, descrente. Em plena pandemia, pastores roubando a educação. Foi uma sensação horrível. Nos três (prefeitos) voltamos meio que desacreditados. Se o governo federal, se os pastores estão fazendo parte, ter que pagar para você ter algo que é direito do município, foi uma sensação muito ruim”, lamentou.
Sobre não ter denunciado a situação na época e ter decidido falar agora, o prefeito afirmou que "na época havia acabado de assumir a prefeitura. Fiquei assustado com tudo isso e jurei para mim mesmo jamais voltar a pisar no MEC. O tempo passou e vi muitas coisas boas na política e pessoas extremamente corretas, o que me fez deixar em segundo plano o ocorrido. Voltei a rememorar o assunto somente com a repercussão das últimas matérias", disse ao g1.
Denúncias
Para o prefeito Kelton Pinheiro (Cidadania), da cidade goiana de Bonfinópolis (GO), o pastor Arilton Moura teria pedido R$ 15 mil.
Já o prefeito do município de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB) disse ao jornal "O Estado de S. Paulo" que o pastor Arilton Moura pediu ouro em troca do repasse de recursos.
Braga contou ainda que o pedido foi feito em meio a outros prefeitos. Ele afirmou que não aceitou o pedido de propina.
Outros prefeitos da região estavam no encontro
Também participaram desse evento do MEC os prefeitos de Américo Brasiliense, Gavião Peixoto, Nova Europa, Rincão e Santa Lúcia.
Ao g1, o prefeito de Santa Lúcia, Luizinho Noli (PL), disse que esteve na agenda, mas que não recebeu nenhum pedido de propina. "O nosso era só um pleito de uma reforma de um refeitório de uma escola, eu não fui nem contemplado. Não teve essas propostas sujas comigo não", disse.
Por meio do chefe de gabinete, o prefeito Adriano Marçal (PTB), de Gavião Peixoto, disse que não recebeu nenhum pedido de propina.
O prefeito de Rincão , Tenente Rodrigues (PSL), contou que participou do encontro mas que não viu em momento algum tal situação.
"Pra mim não chegou nenhum tipo de solicitação, primeiro porque não é do meu feitio. Eu não admito e não ia permitir. Se tivesse acontecido comigo, eu teria saído muito antes.Na verdade, isso aí pra mim é uma sacanagem entre as pessoas. Ele [Milton Ribeiro] é pastor, é um baita de um cara. Não acredito que ele tenha participado de nada", declarou.
Os prefeitos Dirceu Pano (PSDB), de Américo Brasiliense e Luizão (PTB) de Nova Europa não retornaram os contatos do g1 até a publicação desta reportagem.
Investigações
Em áudio divulgado pela "Folha de S. Paulo", Ribeiro afirma que repassa verbas para municípios indicados pelos pastores Gilmar Silva e Arilton Moura, e que faz isso a pedido do presidente Jair Bolsonaro.
Na esteira das denúncias no MEC, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu autorização ao STF para instaurar um inquérito sobre a suspeita de que Ribeiro tenha favorecido pedidos de pastores na concessão de verbas públicas.
Segundo material divulgado pela PGR, se autorizado, o inquérito vai apurar "se pessoas sem vínculo com o Ministério da Educação atuavam para a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vinculado à pasta".
A Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado aprovou nesta quinta-feira (24) convite para que o ministro da Educação dê explicações sobre o caso.
Também foi aprovada uma audiência para ouvir outros envolvidos no caso, entre eles os dois pastores supostamente favorecidos pelo ministro, Gilmar Silva e Arilton Moura, além do presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Marcelo Lopes da Ponte.
Fonte: G1 São Carlos/Araraquara