Especialistas reforçam que a Pfizer deve ser utilizada como terceira dose. Governo de SP anunciou 3ª dose com Coronac.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou em entrevista à CNN nesta sexta-feira (3) que a pasta não recomendará o uso da Coronavac para a terceira dose enquanto não houver o registro definitivo concedido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“É necessário que haja a aprovação dos imunizantes para aplicação nestes grupos específicos, não podemos colocar qualquer imunizante. Só tem um deles com aprovação [definitiva] da Anvisa. E, se não tiver a aprovação da Anvisa, nós não vamos aplicar através do PNI. Vou deixar bem claro: aprovação da Anvisa. Vamos avançar com a dose de reforço nesses grupos e, se as pesquisas apontarem para necessidade desse reforço no restante da população brasileira, faremos isso até o final do ano”, disse.
Segundo o ministro, a decisão do Ministério da Saúde vale não apenas para a Coronavac, mas para qualquer vacina que ainda não tenha recebido o registro definitivo concedido pela Anvisa. “Não só Coronavac, mas qualquer uma das vacinas que não tenham o registro da Anvisa não serão utilizadas por uma questão de segurança da população.”
Segundo ele, a pasta não autorizará a aplicação das vacinas sem o registro definitivo em adolescentes e também para a terceira dose. A vacina da Pfizer é a única que possui o registro definitivo da Anvisa, concedido em fevereiro deste ano.
Já em agosto, a agência reguladora negou a aplicação da Coronavac em crianças e adolescentes – até o momento, o imunizante produzido pelo Instituto Butantan, em parceria com o laboratório Sinovac, possui a autorização para uso emergencial no Brasil.
Queiroga ressaltou ainda que a orientação do Ministério da Saúde é pelo uso da vacina da Pfizer para a dose de reforço e, segundo ele, a decisão de uso deste imunizante é técnica. “O nosso PNI é respeitado mundialmente, a escolha da Pfizer não foi feita pelo ministro, foi feita pelo grupo técnico [do Ministério da Saúde], disse.
O ministro mencionou que se, caso seja necessário, a pasta irá adquirir mais doses dos imunizantes em uso no país e que o governo federal tem o compromisso que imunizar toda a população adulta até outubro.
A campanha terá início na segunda quinzena de setembro, contemplando inicialmente as pessoas acima de 70 anos que receberam a segunda dose há pelo menos seis meses e indivíduos imunossuprimidos que foram vacinados há 28 dias.
Especialistas reforçam que a Pfizer deve ser utilizada como terceira dose
A decisão por priorizar a Pfizer foi feita em acordo do Ministério da Saúde com especialistas do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e da Câmara Técnica Assessora de Imunização Covid-19 (CETAI).
O infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Júlio Croda, considera que a Coronavac não é uma boa opção como terceira dose, principalmente para o público de idosos e imunossuprimidos. Segundo Croda, a vacina gera uma resposta menor nesses grupos devido aos fatores próprios do sistema imune.
“Ela gera uma resposta menor associada à imunossenescência [envelhecimento do sistema imunológico] e à dificuldade de o sistema imune montar uma reposta de anticorpo neutralizante celular”, explica. “Então ela já gera menos resposta imune comparativamente com as outras vacinas, principalmente em idosos, e isso se reflete nos dados de efetividade que vem demonstrando”, completa.
O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, membro da câmara técnica, participou das discussões junto ao Ministério da Saúde. “O conjunto de evidências disponível hoje na literatura aponta para uma melhor resposta da Pfizer, tanto celular quanto humoral [produção de anticorpos], nas doses primária ou de reforço para pessoas mais velhas ou imunocomprometidas. A vacina da Pfizer tem um perfil de resposta melhor, é indiscutivelmente a vacina preferível”, disse Renato.
A opinião também é compartilhada pelo presidente do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), João Viola. “A melhor estratégia nesse momento é não usar a Coronavac. A proposta do PNI de usar a Pfizer ou a AstraZeneca está correta. A Coronavac cumpriu seu papel importante no início da vacinação, dando o acesso à vacina. Mas, nesse momento o mais acertado é ir para outros imunizantes”, disse.
O especialista destaca dois fatores como motivos para a priorização da Pfizer ou da AstraZeneca. “A Coronavac consegue manter títulos [de anticorpos] e proteção razoáveis, mas ela vem caindo ao longo do tempo, principalmente em idosos. Além disso, a troca de vacinas tem dado bons resultados no exterior, já têm alguns estudos sugerindo isso. Então, acho que a Pfizer e a AstraZeneca seriam mais acertadas nesse momento”, disse.
Governo de SP não pretende seguir o PNI
Contrariando o PNI - Plano Nacional de Imunização - o coordenador-executivo do Centro de Contingência Contra a Covid-19 do estado de São Paulo, João Gabbardo, afirmou que os idosos receberão a dose de reforço da vacina Coronavac no estado. Entre os dias 6 de setembro e 10 de outubro, o Governo de SP vai aplicar a dose adicional da vacina contra o coronavírus em pessoas a partir de 60 anos e imunossuprimidos maiores de 18. A campanha vale para quem recebeu a segunda dose há mais de seis meses ou, no caso de imunossuprimidos, ter completado o esquema vacinal há pelo menos 28 dias. A vacinação de adultos imunossuprimidos terá início no dia 20 de setembro e inclui pacientes em tratamento de hemodiálise, quimioterapia, Aids, transplantados, entre outras pessoas em alto grau de imunossupressão.